
Com a inocência de uma criança que acaba de vir ao mundo, encontrava-se ela a admirar o brilho das estrelas. Acabara de perder seu avô, a pessoa em que mais confiava e depositava toda a sua confiança e afeto. Ao erguer os olhos, ela o avistou. Já haviam se falado antes, pela rede social. Se conheciam, mas ao mesmo tempo, eram estranhos. Com encanto das palavras bem modeladas e ditas, ele conseguia enganar e fascinar sem deixar transparecer ao menos o rastro de quem era de verdade. Frágil como ela estava deixou ser levada pelo bem que ele a fazia. As palavras e juras que ele fazia a encantavam de tal forma que ela nem sequer poderia imaginar o que em breve viria a tona. Com o passar de poucos dias, se viram envoltos em uma ardente paixão que não poderia acabar. Eram adolescentes. Ele cursava Enfermagem e ela Pedagogia. Faziam planos de se casar, ter filhos, construir a casa que queriam, e por muitas e muitas vezes eram levados pelo vislumbre de se contemplarem já idosos, com sua família formada e completa composta por sete filhos: três rapazes e quatro moças.
Os dias passavam e tinham a certeza de estarem apaixonados. Até que ela, conhecendo uma amiga dele, começou a saber de coisas que nada a agradara. Soube que nos finais de semana que ele desaparecia dizendo que estaria com os familiares na cidade vizinha, era uma desculpa que ele dava, pois na verdade aos finais de semana ele se entregava às festas, baladas e boates da própria cidade em que viviam. Na segunda ele retornava e fazia como se realmente tivesse passado aqueles dias na casa de algum familiar. Ao saber que ele mentia, ela sentia como se parte de seu castelo encantado desmoronasse. Não queria acreditar que o amor de sua vida, o primeiro, estaria a enganá-la. Muitos finais de semana depois ela já não aguentava mais ouvi-lo dizer que estava indo para a casa de parentes.
Decidida, resolveu contar que conhecia toda a verdade e que sabia que ele estaria afundado nas bebedices e nos manjares da vida noturna. Ele a chamava de louca e dizia que estava se sentindo ofendido com essas acusações, mas de nada mais adiantava, ela já estava saturada de aguentar a ausência dele por um período de tempo semanal. A única coisa que ela pedia a ele era que não escondesse nada mais e que a deixasse participar de sua vida, que não mentisse e não a enganasse. Nesse momento as palavras e lágrimas dela pesaram sobre os ombros dele e ele percebera o quão verdadeiro era o que ela sentia e que não, ele não tinha o direito de enganá-la. Ali, sem conseguir encará-la, confessou seu envolvimento com drogas e que ela não era sua única parceira.
Não queria acreditar. O que sobrara do encanto de seu castelo acabava de ruir por completo. Ela não conseguiria conviver com aquela condição. Era demais. Era pesado. Era arriscado. Era insuportável. Mas, coração como não é algo simples como se pensa, continuou amando-o como se nada tivesse acontecido. Tendo que distanciar-se dele, os dias dela já não eram mais os mesmos. O sol parecia ter se escondido por entre as montanhas e as trevas reinavam diante de seus olhos. Sufocada e com a alma dilacerada, ela se jogou da janela do quinto andar, nada fácil de entender.
Thiago Fontinelly'