sábado, 13 de dezembro de 2014

Precisava escrever!

              Sim, hoje até mais que nos últimos meses, preciso muito escrever. Mesmo que talvez ninguém leia, ninguém saiba, ninguém enfrente a árdua e pesarosa jornada de leitura de um texto, vou escrever. Diferente das outras vezes, hoje não é só a cabeça que está cheia, mas também o coração. Cheio de dor, de alegria, de tristezas, de paz, de guerra, de seguranças e incertezas. Parece ser mais um daqueles momentos em que você tenta levantar a cabeça, vislumbrar um horizonte possível, mas não consegue. Tanto já trilhei até aqui e ainda bem que não sei quanto ainda vou trilhar, pois na certa, me desesperaria. Viver nunca foi fácil e conviver é todavia mais difícil. A vida é obra de um acaso, um acaso que como todos os demais é incerto, obscuro, nublado,imparcial... O poeta ao escrever que o "amor é dor que dói e não se sente", não sabia ao certo o que dizia, ao contrário de Bethânia, que em sua doce voz canta os versos "...e todo grande amor, só é bem grande se for triste..." e com ela está a razão. Amar é dor que dói, é arma que fere, machuca e até mata! É uma pena agora olhar pra trás e ver que "nada consta". É triste imaginar que a boca que foi minha será agora de um outro alguém, que os braços que embalaram meu corpo em noites frias em que o coração carecia de carinho, vão agora dar calor e segurança a um corpo que não é o meu, que os pés que encaminhavam-se para mim, vão agora..... Vão agora..... Outra vez o tal do acaso! Pra onde vão, só ele sabe, só ele imagina, só ele decide. Enquanto isso, o que compete a mim fazer é simplesmente arrumar a bagunça que ficou. Tanto dentro quanto fora. Dentro do peito e fora dele. Reorganizar a casa, jogar fora o lixo, engavetar as lembranças, espanar o pó da saudade, enxugar do chão as lágrimas, colocar ao sol os mantos de tristeza e fechar cada ferimento que com o tempo se tornou necroses, tumores. E depois, o que fazer? Não sei, isso só o acaso pode responder. 

segunda-feira, 14 de julho de 2014

Nas linhas do Hexa!

         É fato que não era prioridade, mas apesar de todas as disposições em contrário a Copa do Mundo aconteceu e aconteceu muitíssimo bem, diga-se de passagem. O Brasil abriu suas portas e abraçou a multidão que passou por aqui de uma forma muito hospitaleira, amistosa e receptiva. Os turistas vieram com a bagagem cheia de esperança, de companheirismo, de reciprocidade e munidos de um espírito competitivo, souberam lidar com a frustração da perda e com a fatalidade de ver sua Seleção não ser campeã, com exceção da Alemanha, e claro. Cada um deixou no solo brasileiro a sua pegada, trouxe sua cultura e mesmo que o idioma se divergisse, a comunicação entre os povos não sofreu nenhum impedimento ou falta a ponto de não acontecer. O Brasil foi goleado, mas o mundo também foi com o exemplo de educação dado pelos japoneses, pela Seleção Alemã, que em terras brasileiras, comemorou sua vitória dançando como os indígenas, os primeiros habitantes desta nação. Isso prova que ser vitorioso não é tripudiar sobre o concorrente, sobre os que não conseguiram avançar pelo caminho, mas sim, respeitar seu adversário e reconhecer a importância dele em sua conquista. Com este evento o Brasil deixa claro o poder que possui de construir grandes estruturas (quando quer), manter e organizar um grande número de pessoas (quando quer) e de ser capaz de garantir à nação um bom nível de segurança pública (voltando a repetir: quando quer). Pelo porte do evento que hospedamos, os problemas relacionados à assaltos, furtos, violência, foram extremamente menores do que os índices costumam apontar cotidianamente. Agora, sem o título ganho e com os turistas retornando para suas terras, nós brasileiros, continuaremos a ser tradição no futebol mundial. Um fato não é capaz de mudar toda a história, nem tão pouco envergonhar para sempre. Logo a ferida cicatrizará e na Rússia, daqui a quatro anos, ouviremos a torcida cantar "sou brasileiro, com muito orgulho, com muito amor".



Thiago Fontinelly'

segunda-feira, 7 de julho de 2014

"Fechei os olhos e pedi um favor ao vento: Leve tudo o que for desnecessário. Ando cansada de bagagens pesadas...
- Daqui pra frente só o que couber na bolsa e no coração."


(Cora Coralina)






Thiago Fontinelly'

Nas entrelinhas da zeladoria

Foi pego e confessou! Matou o zelador e na tentativa de não deixar pistas, cortou-o em pedacinhos e o transportou em uma mala. Como se não bastasse, em seu sítio, como se nada tivesse acontecido resolveu fazer do corpo daquele trabalhador, daquele pai, daquele filho, daquele marido e mais do que isso, daquele ser humano, um churrasquinho betumado em cal. Nenhuma desavença é suficiente para que se justifique tal ato, nenhum contratempo deve ser capaz de provocar tal sentimento, nenhum argumento é plausível para que se receba o perdão, a absorção da culpa que agora carrega. Contudo, o coitado em toda essa triste realidade não é o pobre trabalhador que perdeu sua vida, mas sim o réu confesso, o publicitário. É coitado por ter perdido em vida a essência de sua humanidade. É coitado porque os seus mais de quarenta anos de vida não conseguiram fazer dele um ser que mereça ser chamado de homem. É coitado, porque na falta de conhecimento, lucidez e racionalidade, atenta contra a vida. É um coitado pois nasceu no grupo errado da espécie terrestre, veio em corpo humano, bípede, mas com a mentalidade completamente podre, cheia de insetos que se alimentam de dejetos, excrementos, podridão. É um COITADO que não é capaz de enxergar no outro a extensão de si mesmo enquanto humano e é claro que não enxergaria... Não é humano!

Thiago Fontinelly'

domingo, 6 de julho de 2014

"O senhor poderia me dizer, por favor, qual caminho devo tomar para sair daqui?"
"Isso depende muito de para onde você quer ir", respondeu o Gato.
"Não me importa muito para onde...", retrucou Alice.
"Então não importa o caminho que você escolha", disse o Gato.

(Alice no País das Maravilhas - Lewis Carroll) 


Thiago Fontinelly'

sábado, 15 de fevereiro de 2014

Saudades do Meu Eu

Aflito. Foi assim que certa noite, num ímpeto repentino eu me vi. Olhava no espelho e já não mais me reconhecia. A barba havia crescido e sufocado de vez o rosto da criança que um dia o destino se encarregou de assassinar. Lembrei-me saudoso dos sonhos que fazia quando menino, dos desejos, das imaginações futuras e também dos medos que desde muito cedo assolavam-me a alma fazendo-me desistir antes mesmo de tentar. Ao lembrar disso, copiosas lágrimas insistiram para serem libertas, e sem receio algum, saltavam pelos olhos. Flashes sobrevinham à minha mente. Momentos de dor eram praticamente revividos trazendo de volta a angústia, o desespero, o nó que se formava na garganta quando assistia às brigas de meus pais, voltava a ser formado só que de uma forma bem mais intensa, bem mais violenta, inúmeras vezes mais dolorido. Ao levantar os olhos meu mundo já não possuía mais cor. As paredes do quarto pareciam tê-lo reduzido àquele pequeno espaço e todos os sonhos que davam vida, forma e sentido à minha existência estavam ao chão, rasgados, pisoteados, sujos, sem conserto. Essa dor doeu mais forte... Sentia a vida se esvaindo de minhas veias... Em cada canto da vida que tinha vivido até aqui havia um pedaço meu. Eu percebia que eram pedaços importantes, vitais, mas que já estavam completamente sem vida. Correndo para o canto direito do quarto escuro, me lancei contra a parede e, escorregando com as costas, encontrei-me com o chão. No peito, o vazio. No coração, a dor. Nos olhos as lágrimas, as fiéis companheiras desde a infância.


Thiago Fontinelly'

sábado, 28 de dezembro de 2013

Festa sem dono

            Estavam na maior correria. Todos envolvidos para fazer com que a festa saísse na mais perfeita ordem e que fosse inesquecível, afinal, era tradição daquele povo comemorar aniversários. Na véspera, saíra para comprar os ingredientes e demais itens da lista que havia sido feita. Nada faltou. Os convites foram feitos por telefonemas, na verdade, as ligações foram feitas mesmo só para confirmar, pois desde o aniversário do ano anterior já havia ficado combinado e acordado que no próximo ano retornariam. Assim foi feito. No dia, logo cedo arrumaram a casa, espalharam as luzes, as bolas, os enfeites. Tudo estava limpo e brilhava com o refletir das luzes que já começavam a se acender. Da cozinha vinha as mais saborosas essências e aromas carregadas pelo vento, anunciando que o banquete estava por ficar pronto. As roupas eram novas, recém-chegadas da loja. As mulheres e meninas traziam no alto de suas cabeças penteados  finos, clássicos, como se fossem uma escultura. Estava tudo impecável. A alegria parecia comandar naquele lugar. A empolgação era evidente em cada rosto. É chegada a noite. Tudo pronto. A mulher deu a última conferida e os últimos retoques. Mesa posta. Convidados presentes. Copos cheios. 
             A festa começou e ninguém queria saber da hora em que iria acabar. Haviam esperado um ano para aquele aniversário e agora tudo o que queriam e pensavam era em aproveitar o momento até o último instante que pudessem. As crianças corriam pelas escadas, as mulheres sentaram-se à sala e ali fizeram sua roda de conversa. Os homens, a beira da churrasqueira, comiam, bebiam e envolvidos por seus causos e estórias, riam-se sem limites de altura. Horas e horas se passaram. A meia noite o sino soou as doze badaladas e isso significava apenas uma coisa: era Natal, o aniversário de Cristo. A comoção era geral. Todos se abraçavam e desejavam um ao outro um "feliz natal", "boas festas", "próspero ano novo", etc... etc... etc. Sentaram-se à mesa e em menos de uma hora, o jantar foi degustado. Pouca coisa sobrou além dos ossos do peru e pratos sujos. Agora, cheios e satisfeitos (alguns embriagados) era hora de partir. Cada qual retornaria para sua casa, mas já combinado - como de costume - em retornar no próximo ano. As luzes se apagam. As roupas de grife, agora ao chão do quarto. Adormeceram. 
                  Recolheram-se sem perceber que na festa de aniversário ao qual haviam acabado de participar faltou algo crucial, de extrema importância: o aniversariante, o Cristo. Afundados em seu egoísmo e avareza não perceberam que bem próximo haviam pessoas que não tinham sequer o que comer. Enfadados pela gula, comeram e beberam e o que no bolso coube, foi consigo pra casa. Vestidos pela falsidade e hipocrisia compraram presentes para parentes que há muito não se falavam devido a uma discussão do passado, coisa pouca. Munidos do riso de engano, se suportaram uns aos outros, loucos pelo momento em que não estivessem frente a frente para comentar sobre o cabelo mal arrumado ou a roupa mal passada e fora de moda. Enquanto isso, o aniversariante, o Cristo, só desejava entrar em sua própria festa e trazer a paz . Entretanto, percebeu que os homens já possuem um outro cristo, que se veste de vermelho e que entrega presentes, e que Ele, o Cristo, é nada mais nada menos do que uma lenda.

Thiago Fontinelly'