Sim, hoje até mais que nos últimos meses, preciso muito escrever. Mesmo que talvez ninguém leia, ninguém saiba, ninguém enfrente a árdua e pesarosa jornada de leitura de um texto, vou escrever. Diferente das outras vezes, hoje não é só a cabeça que está cheia, mas também o coração. Cheio de dor, de alegria, de tristezas, de paz, de guerra, de seguranças e incertezas. Parece ser mais um daqueles momentos em que você tenta levantar a cabeça, vislumbrar um horizonte possível, mas não consegue. Tanto já trilhei até aqui e ainda bem que não sei quanto ainda vou trilhar, pois na certa, me desesperaria. Viver nunca foi fácil e conviver é todavia mais difícil. A vida é obra de um acaso, um acaso que como todos os demais é incerto, obscuro, nublado,imparcial... O poeta ao escrever que o "amor é dor que dói e não se sente", não sabia ao certo o que dizia, ao contrário de Bethânia, que em sua doce voz canta os versos "...e todo grande amor, só é bem grande se for triste..." e com ela está a razão. Amar é dor que dói, é arma que fere, machuca e até mata! É uma pena agora olhar pra trás e ver que "nada consta". É triste imaginar que a boca que foi minha será agora de um outro alguém, que os braços que embalaram meu corpo em noites frias em que o coração carecia de carinho, vão agora dar calor e segurança a um corpo que não é o meu, que os pés que encaminhavam-se para mim, vão agora..... Vão agora..... Outra vez o tal do acaso! Pra onde vão, só ele sabe, só ele imagina, só ele decide. Enquanto isso, o que compete a mim fazer é simplesmente arrumar a bagunça que ficou. Tanto dentro quanto fora. Dentro do peito e fora dele. Reorganizar a casa, jogar fora o lixo, engavetar as lembranças, espanar o pó da saudade, enxugar do chão as lágrimas, colocar ao sol os mantos de tristeza e fechar cada ferimento que com o tempo se tornou necroses, tumores. E depois, o que fazer? Não sei, isso só o acaso pode responder.