sábado, 15 de fevereiro de 2014

Saudades do Meu Eu

Aflito. Foi assim que certa noite, num ímpeto repentino eu me vi. Olhava no espelho e já não mais me reconhecia. A barba havia crescido e sufocado de vez o rosto da criança que um dia o destino se encarregou de assassinar. Lembrei-me saudoso dos sonhos que fazia quando menino, dos desejos, das imaginações futuras e também dos medos que desde muito cedo assolavam-me a alma fazendo-me desistir antes mesmo de tentar. Ao lembrar disso, copiosas lágrimas insistiram para serem libertas, e sem receio algum, saltavam pelos olhos. Flashes sobrevinham à minha mente. Momentos de dor eram praticamente revividos trazendo de volta a angústia, o desespero, o nó que se formava na garganta quando assistia às brigas de meus pais, voltava a ser formado só que de uma forma bem mais intensa, bem mais violenta, inúmeras vezes mais dolorido. Ao levantar os olhos meu mundo já não possuía mais cor. As paredes do quarto pareciam tê-lo reduzido àquele pequeno espaço e todos os sonhos que davam vida, forma e sentido à minha existência estavam ao chão, rasgados, pisoteados, sujos, sem conserto. Essa dor doeu mais forte... Sentia a vida se esvaindo de minhas veias... Em cada canto da vida que tinha vivido até aqui havia um pedaço meu. Eu percebia que eram pedaços importantes, vitais, mas que já estavam completamente sem vida. Correndo para o canto direito do quarto escuro, me lancei contra a parede e, escorregando com as costas, encontrei-me com o chão. No peito, o vazio. No coração, a dor. Nos olhos as lágrimas, as fiéis companheiras desde a infância.


Thiago Fontinelly'